"Somos o sonho e o desejo dos nossos ancestrais "
Ontem estava a adormecer a minha filha e percebi o sentido destas palavras, claro que para mim parece mais fácil porque a quis, mas revelou-se mais difícil do que alguma vez imaginei.
Ser mãe trouxe os meus monstros adormecidos, dores que não me lembrava, que a minha mente apagou, portanto a vinda dela era altamente necessária:
Quem seria eu sem tirar estes monstros do armário?
Para quem não tem filhos, vale lembrar, que: Somos filhos!
Somos o sonho dos nossos ancestrais porque vivemos noutro tempo, sempre mais à frente que o deles, temos tudo o que eles tiveram, as dores, os amores, as alegrias, as revoltas, os ideais, a mesma vontade de liberdade, pela qual lutamos, de sermos seres únicos que fazem parte de algo maior.
No fundo, no fundo, o que sentimos é tão igual aos nossos entes, independente da história de cada um, vejo filhos a repetirem o mesmo sentimento de solidão que a mãe, ou o pai, ou ambos, até mais profundo que isso, um filho que vive a dor de alguém que já partiu.
Genética é informação, o nosso ADN transporta toda a história da nossa família, quando há um sentimento preso é preciso que o resto da família "extravaze", e isso vem com o impensável, um filho, uma mudança, um amigo que nos magoa, uma mudança de trabalho, a vida pede movimento, essa dor quer ser vista.
Quanto mais nos libertamos mais a nossa família o sente, os nossos amigos, os nossos colegas, a comunidade.
O ambiente fica mais leve, libertamos a "bagagem".
E esse é um dos motivos porque encarnamos.
Se és aquele que gosta de levar o peso dos outros fica a saber que assim vai ficar mais pesado para os dois, se for só um a carregar chega mais rápido o momento que não se aguenta e dizemos basta!
Esse é o momento que todos esperamos.
O grito e choro de alegria de quem diz "Não carrego mais essa dor".
E todos os ancestrais festejam porque um pássaro precisa de voar, e assim ele vai alegrar os céus com as suas cores,
as cores da sua família.